Bicho de Rua

A onça que aprendeu a miar...

Leia e emocione-se com esta história de amor entre uma gatinha que tinha perdido a fé nos humanos e a luta do casal que a adotou para reconquistar a sua confiança.

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Leia e emocione-se com esta história de amor entre uma gatinha que tinha perdido a fé nos humanos e a luta do casal que a adotou para reconquistar a sua confiança.
Eu jurava que não iria doar a onça.

Quando o casalzinho de namorados entrou na clínica para adotar a Ospa, eu e a Dra. Rochana nos entreolhamos e torcemos os dedos.

Nos dirigimos para frente da gaiola onde a onça estava e ela se jogou de encontro ao vidro para atacar, pensei "eles vão embora agora mesmo, não vão aturar isso"

Mas não...eles ficaram...olharam curiosos e comentaram o quanto ela devia ter sofrido. Aquela gatinha tinha perdido uma pata atorada por um tiro de chumbinho muito bem mirado. Falaram de suas dores, seus sofrimentos, e agora da outra pata operada. A Ospa respondia furiosa, fazendo "ffffffffffffu" com a boca aberta, todos os dentes à mostra e olhar fixo querendo dizer "é óbvio que vou atacar todo mundo".

Foi quando ouvi o namorado da adotante dizer ” Não vamos olhar a Ospa nos olhos, assim ela não sentirá que estamos afrontando-a", que eu pensei "acho que vai rolar essa adoção".

Nos cinco minutos seguintes nós três ficamos conversando sem olhar para ela, no mesmo lugar, bem em frente à gaiola de vidro. Quando espiamos com o canto dos olhos, ela nos olhava quieta, curiosíssima, só observando, muito mais calma.

Nesse meio tempo expliquei a eles que não precisavam ter pena por ela não ter uma pata. Expliquei, ainda, que a outra patinha operada funcionava bem. Disse que os animais não sabem que estão deficientes. Se não sentirem dor nenhuma, eles são felizes de qualquer jeito, basta o amor.

Quando decidiram realmente levar a moça pra casa, não sabíamos como tirar a fera da gaiola. Só a Dra Rochana conseguia se aproximar e era quem aplicava injeções e tudo mais, sempre protegida por uma toalha. Ninguém ousava alimentar a moça, só a Dra. Foi ela quem sugeriu colocar a cama da Ospa dentro da caixa de transporte. Feito isso, saímos da sala. Em poucos segundos, Ospa estava na caixa de transporte, dentro de sua indefectível cama verde comprada por mim!

E assim deu certo a adoção mais inusitada que tive. Uma fera adotada por dois jovens super calmos.

Até hoje tenho vontade de chorar quando lembro dela se arrastando na calçada da Av. Independência, apenas com as duas patas traseiras funcionando. Foi muito triste. Ela parecia uma tartaruga. Eu berrava para todo mundo parar de correr, pois surgiu gente de tudo quanto é lugar, transeuntes, tudo. Fiquei com medo que ela caísse no buraco da garagem que tem uns seis metros. Foi um pavor indescritível.

Para nossa sorte encurralamos a gata atrás de um vaso de plantas. Uma amiga protetora, a Liège, empurrou de um lado e eu capturei com a caixa do outro. A pobre não pulava, entrou na caixa fazendo xixi, tadinha. Mal sabia ela que o céu estava começando a ficar iluminado no seu caminho. E que, daquela caixa, iria parar no colo da amada adotante Ana Lívia, exatamente um ano depois.

Quando a veterinária olhou o Raio X e descobriu que eram tiros de chumbinho, cuidadosamente mirados nas articulações, chorou. É que sabíamos que a outra pata certamente havia sido alvo do mesmo criminoso.

Essa doação ficou como uma lição para todos nós. Inclusive a técnica de não olhar nos olhos para não parecer afronta.

O onça demorou quatro meses para miar! Hoje é outra gata e se chama Tita. Ela corre pela casa, fica no colo e não quer descer, conversa miando, dorme na cama! Como disse a Dra Rochana só uma palavra pode explicar porque deu certo: amor. E muita, mas muita paciência, sem presença de outros gatos.

Acredito que essa soma de ingredientes fizeram a antiga "onça" abandonar a agressividade e miar feliz, como qualquer gata que foi amada desde o dia em que nasceu.

Nota da redação: este relato emocionante foi enviado pela protetora Cleide Frasson Zanini, que junto com a protetora Liege Copstein e os Drs Tobias Fett e Rochana Rodrigues Fett, deram esta segunda chance a Tita.


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