Clarabela, a preciosa!
Conheci muitos cavalos maravilhosos. Maradona, Margarida, Catita e os fantásticos Melão e Escadinha. Devo reconhecimento a todos, mas preciosa é a Clarabela, um presente que ganhei da vida.
Em 2002 procurava um cavalo para equoterapia e fui apresentada à Clarabela, uma égua descrita como muito mansa, sem nome e sem “utilidade” para atividade que esperavam que ela desempenhasse (tiro de laço). Logo chamou minha atenção, difícil de pegar no campo, boa andadura e estatura. Sempre ligada a movimentação dos humanos.
Quando finalmente nos aproximamos, ela se mostrou calma, apesar dos pequenos “testes” propostos e sempre atenta as pessoas. Observei que estava “feia”, magra e em condições desfavoráveis. Mesmo com receio de errar, acreditei na impressão favorável e foi escolhida como nossa égua para equoterapia. A partir de então passou por “melhorias” e pelo treinamento específico para equoterapia, sempre respondendo muito bem.
Logo iniciou a trabalhar em nossa equipe, também se colocando maravilhosamente bem. Muitas vezes ganhando afagos, beijos e cenouras dos nossos pacientes atendidos na equoterapia, outras recebendo demonstrações menos “agradáveis” em momentos mais difíceis vividos por nossos “amigos especiais”.Clarabela sempre disposta, receptiva, atenta e ligada a todos.
Em dezembro de 2005, um dia não quis comer a cenoura gentilmente trazida por uma paciente, achei estranho, pedi que o tratador ficasse “de olho nela’ e me chamasse se necessário. Adoeceu, primeiro diagnóstico e tratamento equivocado, piorou. Buscamos outro profissional, agora uma ótima pessoa e veterinária que diagnosticou uma cólica complicada, com indicação para uma cirurgia bastante difícil, coordenada por ela e outra veterinária fantástica. Ainda assim, um pesadelo para qualquer cavalo! Tive que fazer uma escolha solitária, incerta e sabidamente dispendiosa. Resolvi apostar na Clarinha – já apelidada de preciosa... e ela mais uma vez superou as dificuldades e surpreendeu.
Na cirurgia foi descoberta a causa da cólica e de sua condição tão adversa, uma intoxicação seguida de todas as complicações possíveis, mas ela sempre mostrou ser um cavalo especial e mesmo muito debilitada se levantou sozinha no pós-operatório. Ficou mais de três semanas no Hospital Veterinário, sem conseguir comer, suportando dor e sofrimento. Aceitou litros e litros de soro, injeções, curativos e medicações. Tolerou a “rotina hospitalar”, minha ausência e minha angústia. Algumas vezes me despedi dela, não acreditando que pudesse encontrá-la com vida para uma próxima visita. Cheguei a verbalizar baixinho que entenderia se ela precisasse partir.
Depois de muitos dias terríveis, ela começou a melhorar, até que voltamos para “casa” com muitas recomendações e medicações. Novamente mudanças foram necessárias em nossas vidas, um grande amigo nos acolheu e Clarinha “tirou de letra”. Após meses de recuperação foi liberada pela veterinária para voltar a trabalhar na equoterapia. Jamais me esquecerei deste dia! Um dia de muita alegria e reencontros. Desde então, segue medicada diariamente, mas apresenta ótimas condições e disposição.
Algumas pessoas pensam que ela é só uma égua que é bem tratada e cuidada. É verdade, ela tem uma veterinária ótima e incansável. Agradeço a ela e a São Francisco! Eu faço tudo que é possível e um pouco mais, ainda contamos com outros colegas e parceiros que também auxiliam bastante, mas ela é especial! Corajosa e resiliente. Foi investida, acreditada, recebeu muito afeto, mas sempre devolveu em dobro. Depois de tudo que passou, se recuperou e não perdeu a capacidade de estar feliz, disposta e acreditar que é bom conviver e estar perto dos humanos. Seu exemplo fez de mim uma profissional mais capacitada a enfrentar adversidades e uma pessoa mais corajosa e muito melhor.
Quem sou eu? Sou Silvane, psicanalista, cuidadora e “mãe emprestada” da Clarabela e de outros três peludos (também “madrinha” de mais duas). Trabalho com a equoterapia desde 1999, conheci muitos cavalos maravilhosos e sou grata a todos. Maradona um grande e generoso atleta que me possibilitou voar. A “figura” Margarida, a simpática Catita e os fantásticos: Melão e Escadinha. Devo reconhecimento a todos, mas preciosa é a Clarabela, um presente que ganhei da vida!
Por Silvane de Assis Brasil Dias - Psicanalista
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