Um museu com mais de 60 mil amostras de plantas e animais da Mata Atlântica. É grande o desafio de cuidar dele, não? O professor de biologia da Universidade Federal do Espírito Santo, Sérgio Lucena, decidiu enfrentar esta tarefa duas vezes. A primeira foi ao assumir a direção do instituto, em 1995, cargo que ocupou por cinco anos. A segunda foi no final de 2015, quando o governo federal resolveu extinguir o Instituto Nacional da Mata Atlântica, colocando em risco um trabalho de décadas.
Como salvar o Instituto Nacional da Mata Atlântica? Sérgio foi o porta-voz de um abaixo-assinado na Change.org feito em conjunto com vários pesquisadores, que mobilizou mais de 14 mil assinaturas. A petição serviu para pressionar parlamentares e garantiu a sobrevivência da instituição. Centenas de espécies de animais, como o menor beija-flor brasileiro, o topetinho-vermelho (que é símbolo do instituto), foram ajudados.
Criação do museu
A história começa na década de 1940. O naturalista Augusto Ruschi, natural do Espírito Santo e um dos mais respeitados especialistas em beija-flores e orquídeas do Brasil, queria um local para guardar o legado da sua pesquisa.
“Ele foi uma das primeiras vozes a defender explicitamente a conservação das florestas, em um momento em que a ordem era desmatar”, conta o professor Sérgio. Em 1949, Ruschi fundou o Museu de Biologia Professor Mello Leitão, nome que homenageia um importante zoólogo brasileiro.
O museu fica em Santa Teresa, no interior capixaba, numa região de montanhas, repleta de rios, córregos e cachoeiras. Em 2010, pesquisadores e apoiadores do museu iniciaram uma campanha para transformá-lo em instituto, que têm mais recursos para proteger a diversidade e mais autonomia. Levou quatro anos, mas deu certo: o Instituto Nacional da Mata Atlântica estava criado, no lugar do antigo museu, e vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
Partindo para a ação
Melhor impossível, certo? A princípio, sim. Após dois anos, mudanças no Ministério da Ciência e Tecnologia chegaram ao conhecimento de Sérgio, e ele constatou que o Instituto Nacional da Mata Atlântica seria extinto.
O desespero de quem trabalha toda a vida por uma causa transformou-se em ação, e Sérgio reuniu-se com outros pesquisadores e professores. Eles decidiram agir.
O melhor caminho foi o abaixo-assinado. Após o início da mobilização, ela cresceu rápido. Alguns comentários davam entusiasmo, como o de Claudio Fraga, do Rio de Janeiro: "Extinguir o INMA é extinguir parte da biodiversidade nacional".
“As 14 mil assinaturas foram encaminhadas para várias instâncias: para grupos de cientistas, deputados, senadores, Ministério de Ciência e Tecnologia, Ministério do Planejamento. Ficaram todos surpresos com tanta pressão”, relembra o biológo.
Governo recua
Em agosto, o professor Sérgio obteve a confirmação de que o governo federal recuou diante do tamanho da mobilização contra a extinção do Instituto Nacional da Mata Atlântica.
“Foi uma vitória fundamental! O Brasil é signatário dos tratados internacionais de preservação da biodiversidade e a Mata Atlântica é um bioma essencial. O instituto tem um papel importante nisso e fiquei extremamente feliz em ver que as pessoas nos apoiam”, comemora o professor.
O Instituto Nacional da Mata Atlântica tem o seu lugar na ciência e na pesquisa ambiental, mesmo não estando em uma grande capital, de acordo com o pesquisador.
“Mostramos que o instituto, mesmo não localizado em uma grande metrópole, tem relevância. Isto fez os parlamentares do Espírito Santo se articularem em nossa defesa. Perceberam, finalmente, que o Instituto Nacional da Mata Atlântica simboliza uma luta fundamental do nosso estado."
Próximos passos
Sérgio não vai parar. Ele já deu um novo passo para fortalecer o instituto ao criar mais um abaixo-assinado, depois de saber da vitória.
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“O governo criou? Beleza. Mas agora é preciso regulamentar. Isto pode parecer somente uma burocracia, mas para nós é muito importante. Com a regulamentação, poderemos definir e implementar nosso planejamento estratégico, ampliar as ações de conservação e criar ações de valorização do museu”, explica.